DE OESTE A LESTE

Resultado de um planejamento urbano restritivo, a área mais profundamente estudada, Arraial Moura Brasil, apresenta um cenário urbano cheio de contradições e conflitos socioespaciais. Após visitas realizadas ao local foi possível obter informações acerca da infraestrutura urbana, social e econômica do bairro e seus moradores, que não condiz com a “realidade” dita com a implantação da avenida Presidente Castelo Branco (Leste-Oeste), que ao invés de trazer benefícios a toda a população do entorno, restringiu às classes de maior poder aquisitivo. A avenida Presidente Castelo Branco tem efeito sobre todo o bairro Moura Brasil, que é relativamente pequeno, trazendo, assim, um foco maior da análise para a comunidade, que sendo um organismo vivo com relações sociais e espaciais conflituosas e por ser pouco assistida pelo Estado, merece tal destaque.

 

A comunidade se caracteriza por conter ruas estreitas, vielas e becos sem saída, o que inviabiliza os serviços de saneamento básico, coleta de lixo e pavimentação, sendo possível, através das visitas, presenciar o esgoto sendo lançado a céu aberto e o lixo jogado nas ruas e até na encosta da avenida Leste-Oeste. Não foi possível localizar nenhum equipamento público destinado ao lazer e à cultura, além de uma praça de pequeno porte no extremo do bairro, assim também como, posto de saúde ou farmácias, e nem mesmo comércio de grande porte, se limitando apenas à mercearias e bares. Infraestrutura no Arraial Moura Brasil quem executa é a própria população, construindo escadarias de acesso e pequenas “praças” para o convívio social. É notório o descaso do poder público para com a comunidade.

 

Apesar de ser dotada de duas escolas e uma creche, o bairro não recebe investimentos em educação profissionalizante ou de conscientização que apresente condições diferentes de vida, que divirja da criminalidade e das drogas, dado que, é crescente o contingente de homens e jovens que se aderem às drogas e consequentemente ao crime. Com base em pesquisas e entrevistas com os moradores, há brigas de gangues rivais dentro da própria comunidade – do lado do Oitão Preto e do Santo Inácio – e a maioria constituída por adolescentes, o que culmina na dificuldade de acesso às escolas, visto que, é preciso atravessar um dos lados para se chegar.

 

Uma das razões da ineficiência dos equipamentos e serviços públicos no bairro é fato de o Moura Brasil estar contido na SER I que engloba a região litorânea oeste, sendo que, o bairro é considerado como uma extensão do Centro, uma região mais assistida e que contém serviços de lazer, cultura, comércio e etc. É uma comunidade esquecida, que foi consequentemente recuada pela Avenida, e isolada do benefício de ser considerado um bairro, que traria consigo o direito à requalificação urbana, o sentimento de pertença e reconhecimento perante a sociedade.

Dessa forma, vemos a Cidade do Espetáculo quando as autoridades estatais e municipais elaboram mecanismos de crescimento da modernidade na cidade, com o pretexto da requalificação urbana e melhoria da qualidade de vida, porém, o fazem para fins econômicos, a fim de movimentar a especulação imobiliária, aquecer o mercado e gerar mais lucros. Deixando a população à margem das prioridades, fortalecendo as segregações socioespaciais, ao mesmo tempo que dá destaque às camadas antes já privilegiadas.