
DE OESTE A LESTE
Cidade Invisível x Cidade espetáculo
Fortaleza, 1927. Ocorria a abertura de um sistema de avenidas que interligava Centro à Praia de Iracema, local inóspito. Era um prenúncio da emergente década de 30 com movimento no sentido Leste, iniciado com a construção da Vila Morena em 1928, primeira mansão de veraneio em Fortaleza, se destacando entre a humilde vila dos pescadores. A partir de então, inicia-se a ocupação e valorização do Litoral Leste de Fortaleza, levando o Náutico Atlético Cearense a mudar sua pequena sede da Praia Formosa para uma monumental sede na Praia do Meireles em 1950, esse novo fluxo demandou a construção de uma avenida em 1961, a Avenida Beira-Mar, expulsando, assim a antiga zona de prostituição do Meireles para o Farol do Mucuripe e os pescadores para o alto das dunas.
A especulação imobiliária logo descobre a Avenida Beira-Mar.





Desde então, essa área tornou-se um grande polo turístico com a construção de restaurantes, hotéis, bares, além de edifícios residenciais de luxo cada vez mais cobiçados pela elite fortalezense, chegando atualmente ao valor médio de sete mil reais por m² e de dois mil o aluguel (tomando por base um apartamento de 80m2). Onde ocorreu o fenômeno da gentrificação (reestruturação de espaços urbanos que afetam a população de baixa renda do local) de forma mais abrangente, que nos dias de hoje se faz presente apenas na área do Riacho Maceió, sendo assim, um último movimento de saída. Dividindo o litoral leste em dois: a "Cidade Espetáculo" e a "Cidade Invísivel".
A Beira-Mar compreende dois tipos de zona: Zona de Orla (ZO) e Zona de Preservação Ambiental (ZPA). A ZO estabelece parâmetros para o uso e ocupação do solo de áreas contiguas às faixas de praia, tais como, índice de aproveitamento máximo de 3, taxa de permeabilidade (20%), taxa de ocupação (60%), altura máxima de 72m e recuo mínimo de 5m. Tendo a possibilidade de, se necessário, ultrapassar o limite de aproveitamento máximo, por meio da "outorga onerosa do direito de construir".
A ZPA tem como objetivos: não permitir o parcelamento do solo, garantir o uso público das praias e o uso indireto dos recursos, preservar o turismo ecológico, promover estudos e pesquisas, bem como resguardar os sistemas naturais, os quais se misturam com o sistema social, que diz respeito aos pescadores centenários dessa região, abrindo espaço para a seguinte questão: até que ponto os pescadores do Mucuripe não fazem parte desse sistema?