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História

Para se compreender a dinâmica de produção do espaço da área de estudo é necessário partir  dos processos históricos ocorridos no local. É preciso, portanto, partir da década de  30, período de grande desenvolvimento urbano na cidade de Fortaleza, decorrente do crescimento industrial, que veio acompanhado de uma intensa movimentação da população rural para a capital. A infraestrutura e os serviços públicos não acompanhavam o crescimento desordenado da população urbana local, resultando na falta de moradia e no desemprego. Um dos fatores que contribuiu para esse êxodo rural foi a grande seca ocorrida em 1932, que resultou na migração dos sertanejos para a capital, em busca de melhores condições de vida.

 

Impedidos pelo poder público, os migrantes que conseguiam burlar a segurança e chegar à capital, eram confinados em  campos de concentração, que ficavam próximos das estações de trem que traziam as famílias. Nos campos, os retirantes eram isolados e permaneciam em áreas distantes de aglomerações urbanas, impedidos de circular livremente e eram concedidas assistência médica e rações diárias. Em consequência do atendimento precário e da ausência de infraestrutura local , dado aos retirantes, há a formação de favelas, uma delas era o Arraial Moura Brasil, conhecido popularmente por “Curral”, no local, os retirantes podiam fazer tudo, contanto que não saíssem de lá. O lugar, que recebia pouca assistência do governo, se torna local de prostituição e, para os que não habitam ou conhecem o local, o lugar torna-se bastante hostil e perigoso.

 

 

"[...] os campos exigiam rigorosa disciplina e a adaptação contínua a novas tecnologias sociais: vida em comum,  banheiros, horários rígidos, higiene pessoal, vacinação, etc. A vida  no interior dos campos era vigiada permanentemente por uma guarda armada e tornou-se um aprendizado  de novas hierarquias, que se refletiam nas formas de trabalho empregadas nas obras públicas.” ¹

 

“A cidade é invadida e ocupada por sertanejos em número quase quatro vezes maior que sua população. Epidemias, crimes, desacatos à recatada moral das famílias provincianas, tragédias indescritíveis se desenvolvem à vista de todos: assassinatos, suicídios, saques, loucuras, antropofagia!” ²

 

 

 

Nesse contexto a cidade dá continuidade a uma tendência de segregação do espaço onde a área industrial se desenvolve a oeste, desvalorizando o seu entorno e gerando espaços de atração para quem trabalha nesses equipamentos, pela proximidade do local de trabalho e pelo preço de certa forma acessível, mas que, havendo oportunidade, muitas vezes esses espaços eram ocupados clandestinamente, caracterizando, dessa forma, uma malha urbana irregular, repleto de lotes de dimensões irregulares, com predominância de vielas para pedestres e escadarias, e com quase nenhuma assistência do poder público. A leste se desenvolve a área residencial mais abastada, bem servida de infraestrutura e serviços.

 

A dinâmica do local, com ênfase na comunidade do Arraial Moura Brasil começa a se modificar com a construção, em 1975, de quatro grandes vias, incluindo da Av. Presidente Castelo Branco (conhecida Leste-Oeste), que ligava a zona industrial da Barra do Ceará à área portuária do Mucuripe. A inauguração da Leste-Oeste fez com que, de certo modo, o Arraial Moura Brasil fosse incorporado à malha urbana, trazendo melhorias relacionadas à mobilidade urbana, à integração de bairros, valorização do local e atração de comércios e serviços. Com a sua valorização, o local começa a receber uma maior atenção por parte do poder público. A avenida atraiu também grandes empreendimentos, como o Hotel Marina Park, o Instituto Médico Legal e a Estação de Tratamento de Esgoto da CAGECE. A avenida, construída com o intuito de interligar bairros, atende mais aos transeuntes do que à comunidade, pois a instalação de novos equipamentos públicos e o potencial paisagístico dos mesmos atrai uma população de maior poder aquisitivo que passa a fazer uso do local, marginalizando a população residente.

 

Nesse momento é possível perceber a situação contraditória em que a cidade se encontrava, no qual esta se modernizava e se desenvolvia, mas os serviços e a infraestrutura não acompanhavam e nem atendiam à população que também crescia desordenadamente. A cidade empurrava as classes mais baixas para a periferia e o planejamento urbano só atendia a um tipo de classe minoritária e bem abastada. Hoje, a segregação que fica explícita com a implantação da Avenida,  é percebida claramente ao se passar pelo local e ver a distinção espacial, de um lado, o Marina Park, com áreas de lazer e ambientes sempre bem mantidos, e do outro, a favela, abandonada pelo poder público, isolada em si mesma, sem atendimento e com um entorno hostil e perigoso.

 

 

 

(²NEVES, Frederico de Castro. A seca na história do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002).

(¹NEVES, Frederico de Castro. A seca na história do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002).

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