
DE OESTE A LESTE
entre muralhas, o campo do américa
ilha de projetos e a comunidade que permanece
Andar pelas ruas do Meireles é navegar em um mar silencioso de prédios monumentais cercados de muralhas que os isolam do meio urbano, é caminhar e perguntar por onde andam os moradores de todos aqueles apartamentos, já que só os carros circulam ou os poucos entregadores que são tão impessoais quanto aquela tipologia dos grandes edifícios. Servido de uma excelente infraestrutura (mais de 90% da área é atendida pela rede de água, de esgoto, de transportes e de iluminação), o bairro sofre com a especulação imobiliária e a verticalização responsáveis pela perda de vitalidade dos seus espaços públicos que em parte se resumem as vias e calçadas.
A indústria da construção civil impõe um padrão de verticalização em busca de um maior lucro e assedia direta ou indiretamente os moradores do Campo do América que desde 1940 ocupam a região, sejam pelas altas ofertas de grandes empresários ou pela descaracterização do bairro, os moradores da comunidade se veem pressionados a sair da área, mas resistem por reconhecerem os benefícios de morar numa das regiões mais valorizadas da cidade em que o m² ultrapassa os 7,000 reais.
A pressão imobiliária se mostra bastante evidente não só no espaço constantemente em construção, mas também na legislação vigente que legitima a ampla verticalização da área e carrega inúmeras concessões para incentivar a permissividade construtiva.
O bairro é classificado pelo Plano Diretor Participativo de Fortaleza (2009) como ZOC (Zona de Ocupação Consolidada). Para essa área, a altura máxima do gabarito é de 72 metros e podem ser aplicados os seguintes instrumentos, segundo o artigo 90 (PMF, 2009): I - parcelamento, edificação e utilização compulsórios; II - IPTU progressivo no tempo; III - desapropriação mediante pagamento por títulos da dívida pública; IV - direito de preempção; V - direito de superfície; VI - outorga onerosa do direito de construir; VII - transferência do direito de construir; VIII - consórcio imobiliário; IX - estudo de impacto de vizinhança (EIV); X- estudo ambiental (EA); XI - Zona Especial de Interesse Social (ZEIS); XII - instrumentos de regularização fundiária; XIII - outorga onerosa de alteração de uso.
A implementação da ZEIS do tipo 1 (ocupação) no espaço que compreende o Campo do América foi fundamental para a permanência desta população na região apesar de não garantir o acesso próximo a serviços públicos fundamentais como saúde e educação sendo necessário o deslocamento para outros bairros já que os serviços oferecidos são majoritariamente privados. Mesmo com todas as dificuldades de inserção nesse espaço, a comunidade se mantém viva em torno do campo, agora revitalizado, que é palco de competições esportivas que envolvem tanto os jogadores como os atentos expectadores de todas as faixas etárias. As casas aqui sem muro ganham a dimensão da rua, os vizinhos passam e param para uma conversa, no mercadinho os amigos se encontram e combinam o futebol de domingo, o muro da Mansão Macêdo vira até varal longe dos olhos dos seus seguranças. Com o olhar atento da vizinhança as crianças brincam nas ruas ou dão um mergulho na piscina do Palácio da Abolição. Os sons se confundem, a música de longe é ouvida, a vibração do Campo reverbera e incomoda os donos de lotes imensos que só pensam no lucro e criam essa cidade fantasma povoada de prédios.