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Um fato interessante ocorre com a Avenida Beira Mar na bifurcação com a Avenida da Abolição. Ali, os dois nobres logradouros deixam de existir para dar lugar à Avenida Vicente de Castro, entretanto, um hotel de luxo, um condomínio de alto padrão e o Iate Clube de Fortaleza ainda permanecem com o endereço da Avenida Beira Mar. Será então que o endereço é definido pelo padrão do empreendimento e pelo público atendido? As fábricas e comunidades carentes que ali se encontram não estão a altura da honra de ter como endereço a avenida mais nobre da cidade.

 

O bairro Serviluz tem uma vista belíssima, uma panorâmica do mar desde o Mucuripe até a Praia do Futuro, uma área com potencial especulativo enorme se não fosse por dois fatores: as condições ambientais e toda uma comunidade consolidada. Ali, os ventos constantes trazem uma maresia muito forte, a segunda maior do mundo perdendo apenas para a do Mar Morto, o que inviabiliza os empreendimentos de alto padrão, além disso, o bairro já abriga uma comunidade que vive ali há, pelo menos, 50-60 anos. Esses fatores, além das várias indústrias e do porto do Mucuripe que provocam um grande movimento de caminhões e grandes cargas na região, impediram que a especulação imobiliária ocorresse naquela área, enquanto ao lado, no Meireles, a verticalização e a especulação corriam soltas. Entretanto, hoje o Meireles está sobrecarregado, a ocupação chegou ao seu ápice, não existem mais áreas a serem especuladas, o preço dos imóveis disparou, apesar disso, a procura por imóveis e terrenos continua crescente.

 

Diante disso, os olhos das grandes empreiteiras voltaram-se para o preterido Serviluz. O bairro carente de povo simples vive espremido entre o morro, as indústrias e o mar revolto do titanzinho. Carente por tanto tempo de escolas, de postos de saúde e de segurança, o bairro se tornou foco de uma empreitada polêmica encabeçada pela prefeitura: o Projeto Aldeia da Praia.

 

A premissa do projeto é idílica de tão boa. Requalificar toda a orla do Serviluz criando um calçadão de 1700 metros, restaurar o Farol, padronizar as ruas e alargar as avenidas de acesso, “uma espécie de nova Avenida Beira Mar, com drenagem e pavimentação novas e passeios padronizados”, segundo o secretário de Turismo, Salmito Filho. Além disso, pequenas intervenções nos poucos postos de saúde e nas creches do bairro também estão previstas. Tudo isso em prol da comunidade, ou não? A verdade é que projeto é uma “coisa pra inglês ver”. O desenvolvimento do potencial turístico da região, traz empreendimentos de grande porte, consequentemente, a especulação imobiliária. Não é a toa que a Secretaria de Turismo está encabeçando o projeto.

 

As consequências do projeto são desastrosas para a população local, além das famílias deslocadas para conjuntos habitacionais no alto do Morro Santa Tereza, com a conclusão do projeto se iniciará uma verdadeira corrida imobiliária pela aquisição dos terrenos mais próximos ao mar, aparecerá um restaurante anunciando “a vista mais bela da nova orla”, um hotel, um condomínio de luxo e assim, terreno a terreno, casa por casa, o Serviluz se tornará o “novo Meireles” e toda a comunidade que ali vivia será expulsa para longe de onde, por tanto tempo, foi a sua casa.

 

A tática é esdruxula, mas eficaz. Ocupar e expulsar, como a tanto tempo já acontece. A mesma tática foi usada no início do século passado quando a elite fortalezense saiu do Centro para morar em casarões ao longo das avenidas Dom Luís e Santos Dumont, ali viviam famílias em sítios que foram comprados pelas famílias ricas para a construção de chácaras confortáveis próximas do centro, mas com o clima aprazível do interior. Ocorreu na própria Avenida Beira Mar durante a década de 70, quando virou moda morar na beira da praia, ali existiam comunidades de pescadores que foram expulsas para dar lugar à grandes casas avarandadas debruçadas sobre a recém-inaugurada Avenida Beira Mar. As famílias foram empurradas até que subiram os morros do Cais do Porto e ali se estabeleceram acreditando que finalmente teriam paz.

 

Até quando o dinheiro definirá onde as pessoas podem ou não morar? Projetos como o Aldeia da Praia são máscaras covardes da razão maior desse tipo de projeto: a corrida desesperada pelo lucro. Projetos como esse não buscam resolver os problemas de comunidades carentes, mas as expulsam para longe, para onde os turistas não podem vê-los e o Estado poderá continuar cego e surdo aos pedidos de socorro para as condições miseráveis as quais essa população está sujeita.

 

Repensar a cidade, mas primeiro repensar o cidadão. Ignorar um problema não o faz sumir, mas o agrava. Dentro de Fortaleza existem inúmeras cidades, umas boas, bem servidas de saneamento, iluminação, segurança, e outras complemente carentes do básico. A gestão pública tem como dever garantir que todos tenham o básico para viver com dignidade. Entretanto, o que vemos é um governo que se preocupa em apenas melhorar as partes mais “vendáveis” da cidade aumentando mais ainda o abismo gritante que existe entre as classes sociais. Fortaleza caminha para se tornar uma Índia, onde a casta é definida pelo bairro onde se mora.

A cidade dos abismos, dos contrates, uma Suíça circundada por uma Serra Leoa, onde as ruas têm status e se você não está a altura dela cria-se outro nome para ela. Uma avenida, tantos nomes, se você teve a sorte de nascer privilegiado, poderá ficar na Beira Mar, se não, contente-se com a Vicente de Castro.

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A partir daí, a periferia vai se dissipando até chegar no Titãnzinho e no Serviluz. O Farol Velho que é a porta de entrada das Comunidades está totalmente inutilizado e mal cuidado. As pessoas temem ir para lá, entretanto ,ao fundo, é possivel ver crianças brincando de pipa ou futebol na rua.

Pensando nisso, o Governo Federal, em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, fez um projeto urbanistico e arquitetônico para todo o território da orla leste que hoje abriga inúmeras casas do Titãnzinho e do Serviluz. Chama-se Aldeia da Praia e consiste em uma requalificação social urbana e ambiental da região. Abrange uma área de praça e de calçadão que somam cerca de 29 mil metros quadrados ,com gastos que chegam à 104 milhões de reais aproximadamente e serão garantidos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC2). Entretanto, para a efetivação do projeto, é preciso haver uma remoção de 253 famílias para uma área bastante reduzida no morro de Santa Tereza, que fica nas proximidades, onde cada habitação teria apenas 48m².

Os moradores da área discordam da execução do projeto, por haver o deslocamento de várias pessoas de seu habitat, onde ja possuem uma vivência, costumes, empregos e certezas. Suas casas são maiores e ficam na praia, possuem liberdade de ir e vir em seus comércios, empreendimentos e lazeres.

Alguns afirmam que o maior objetivo do Aldeia da Praia seria o do turismo, pois o projeto original inclue barreias físicas de concreto sobre a areia e propõe uma intervenção bastante impactante para o povo que ja possue alicerces formados. Além disso, o atual prefeito Roberto Cláudio colocou a própria secretaria de Turismo à frente do processo.

É interessante colocar que mesmo sendo nas proximidades de um bairro nobre e de uma orla bem valorizada que é a beira-mar, os bairros do Mucuripe, Vicente Pizón, Serviluz, Titãnzinho e o Morro de Santa Tereza não obtiveram especulação imobiliária, como aconteceu nas encostas do morro que agora recebem o Iate Clube ou os luxuosos edifícios que sacam no oceano. Seria coincidência dizer que todo o aspecto climático de áreas de risco ou simplesmente desconforto da maresia à leste teriam influenciado toda tal aspecto? De um lado um apartamento de ostentação é oferecido a 2,5 milhões e do outro, uma residência se coloca a 100 mil reais, no máximo. A fronteira da cidade espetáculo que aos fundos esconde um mar de favela está na sociedade.

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