
DE OESTE A LESTE

HISTÓRIA DO PIRAMBU
Fortaleza, desde o seu início, se divide em Leste e Oeste, divisão esta provinda de um modelo higienizador e disciplinador, que excluía os menos favorecidos de acesso à postos de saúde, rede telefônica, água, luz, rede de esgotos, escolas públicas, trazendo a tona a segregação espacial. Ao Oeste era destinado tudo aquilo que devia ser varrido do lado rico da cidade. Pirambu, estando no limite da área oeste, a apenas 3km do centro, tornase um pólo atrativo para habitantes de renda inferior. Sendo um exemplo de resistência popular por conta das iniciativas de remoção já feitas para o local. Sendo o Grande Pirambu dividido em Pirambu(Leste) e Cristo Redentor(Oeste).
A origem do processo de favelização de Fortaleza está ligada aos constantes
deslocamentos de lavradores sem terra e flagelados da seca para a capital, que sofrendo com as dificuldades encontradas ao chegar a cidade formam as favelas em locais não ocupados pela população rica. A origem de seu nome também tem ligação com a profissão de pescaria que muitos exercem bairro, sendo Pirambu o nome de um peixe.
Vale ressaltar que antes do inicio do século XX, Fortaleza era uma cidade voltada para o seu interior, numa postura de costas para o mar. Até 1930, o litoral não tem nenhum valor econômico, sendo lembrada apenas para uso terapêutico. No entanto, o turismo voltado a praia chega em Fortaleza e com isso dáse a diminuição do período de estigmatização do Pirambu e os moradores começam a organizaremse para a conquista do direito às terras iniciando a formação da identidade local. Ainda 1930, Pirambu tornase um lugar de contrastes, pois lá coabitam as famílias nobres em casas de veraneio com a população mais pobre.
No Pirambu, Dr. Frota(Fundador do Instituto José Frota) tinha uma casa, onde hoje situa-se o Centro Comunitário Luiza Távora.
Ao Arraial Moura Brasil eram levados leprosos, com a superlotação do lugar, tentaram deslocar os doentes para o Pirambu e construir outro centro medicinal.
Em 1932, a estigmatização se reintensifica ao serem criados campos de conventração para receber os vitimados pela seca. Ao contrário do campo de concentração de São João Tauape, o campo do Pirambu não era murado o que levou a constantes brigas entre polícia e flagelados.
A partir da segunda metade da década de 40, o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do governo do Getúlio Vargas levam o pais a experimentar um clima democrático. Estando tanto o partido comunista ligado a essa politização, através dos sindicatos operários que se faziam nas fábricas lá instaladas, quanto pela Igreja, através de padres como o Hélio Campos, que apesar de buscar o combate ao comunismo, também fortalecia o movimento de identidade comunitário. Padre Hélio tornase um grande nome para comunidade, ajudando assistentes sociais com seu trabalho na comunidade.
Na década de 60 iniciamse tentativas de expulsar os moradores do local. Foi então organizada uma marcha que deu resultados positivos garantindo o direito à terra ao povo do Pirambu através do Decreto Lei 1.058.
O SECAI(Sociedade Esportiva e Cultural ArcoÍris) foi fundado oficialmente em 14 de setembro de 1960 pelo Padre Hélio e tinha como objetivo promover o devido divertimento à juventude do bairro.
Em 1964, as chuvas ocasionaram grandes enchentes e desabamentos,devido a isso o padre, com a ajuda do governador Virgilio Távora, abriga os vitimados pelas enchentes nos prédios da IAPI. Posteriormente foi construído um conjunto coordenado pela COHAB em regime de mutirão, sendo o pioneiro do Brasil neste método. A COHAB ao final da construção tentou cobrar as famílias moradoras do conjunto, querendo que eles assinassem um contrato para pagar as casas em dezoito anos e pretendeu proibir a ocupação das casas por eles construídas. Para driblar a polícia e técnicos da COHAB, Padre Hélio orientou a irem por trás, pelo lado do morro com o objetivo de ocupar as casas.
Após a renúncia de Jânio Quadros, assume o poder Jango que era articulador de discurso reformista. Nesse período passou a haver uma completa perseguição aos movimentos populares, dessa forma Padre Hélio é transferido para Maranhão com objetivo de enfraquecer o movimento.
Em 1969, o Pirambu é dividido em duas paróquias: Nossa Senhora das Graças, sob a responsabilidade do frade capuchinho Frei Kerginaldo Memória, e a do Cristo Redentor, que passou a ser administrada por Padre Caetano, vindo da Bélgica. Essa separação enfraquece ainda mais o movimento e a identidade do bairro.
Em 1970, o plano de desenvolvimento da cidade de Fortaleza tinha inserido em seu projeto a construção da Avenida LesteOeste, objetivando ligar o bairro do Mucuripe à Barra do Ceará. Por conta deste processo, muitas casas foram desapropriadas. São deste período a construção do quebramar situado próximo à Marinha e um outro nas proximidades do final da rua Santa Rosa. A inauguração da Avenida Presidente Castelo Branco, nome oficial da Avenida LesteOeste, ocorre em 21/10/73. Há também a inauguração da Maternidade Nossa Senhora das Graças.
No início de 1980, ocorre o processo de redemocratização, marcado pelo surgimento de muitas associações de moradores.
Em 1984 é criado o Centro Comunitário Luiza Távora.
Em 1989, chega no bairro do Pirambu, mais especificamente na Cacimba dos Pombos, as Irmãs da Redenção do Brasil. O campo relativo à situação da criança e do adolescente tornase o núcleo central do âmbito das ações comunitárias do bairro.
A Sociedade Comunitária de Reciclagem de Lixo do Pirambu foi criada em maio de 1994.
Atualmente o bairro sofreu intervenção dos projetos Sanear e Vila do Mar, que tratamos mais profundamente nas Ações do Estado.